Potterices 3
[Continuação de Potterices e Potterices 2.]No mundo mágico criado por J. K. Rowling a imprensa existe: há pelo menos um jornal diário entregue todas as manhãs por corujas, uma estação de rádio e seis revistas.
Durante o mandato do ex-Ministro da Magia Cornelius Oswaldo Fudge, quando Harry testemunhou a reaparição do Lorde das Trevas que quase todos os bruxos médios [equivalentes ao Homer Simpson, conf. William Bonner] supunham mortinho da silva, a estratégia oficial do Ministério foi negar, negar e usar o "Profeta Diário" para minar a credibilidade de Harry e de Dumbledore. O método utilizado variava entre a ridicularização sutil e a calúnia. A justificativa de Fudge? Ele dizia que o retorno de Voldemort não seria possível e que dizer o contrário à população provocaria uma desestabilização do sistema e da ordem. Assim, ele pretendia neutralizar a influência de Harry e Dumbledore sobre a opinião pública através da desmoralização de ambos.
Quando o retorno de Voldemort finalmente não pôde mais ser ignorado pelas autoridades e pela mídia, Fudge caiu - quase no estilo britânico de derrubar políticos envolvidos por escândalos [na vida real eles caem quando o escândalo é de natureza sequissual]. Imagine Harry Potter no Brasil, nonde os casos de corrupção mais cabeludos aparecem feito Gremlins e basta ao político jurar que não sabia, que foi traído e tá tudo limpo? Não rola.
O sucessor de Fudge, Rufus Scrimgeour, tentou outra tática para manter o Ministério da Magia no papel de autoridade máxima do mundo mágico: usar Harry para dar a impressão à imprensa de que Harry apoiava as ações do Ministro, pedindo que se deixasse ser visto entrando no Ministério de vez em quando. No mundo real também vemos isso acontecer todos os dias, quando "formadores de opinião", artistas e famosidades saem nos meios de comunicação ao lado de políticos declarando seu apoio às ações deles. No meu dicionário isso aparece no verbete "manipulação de massas".
Mas a coisa ficou realmente feia quando Voldemort passou a controlar o Ministério da Magia, infiltrando seus Comensais da Morte em cargos-chave; alguns ocupantes de altos cargos foram enfeitiçados com o Feitiço Imperius [v. poste anterior] e outros ainda puderam liberar seu verdadeiro [mau] caráter, como a vaca da Dolores Umbridge. Enquanto era Alta Inquisidora da escola de Hogwarts ela puniu a insistência de Harry afirmar que Você-Sabe-Quem retornara e proibiu alunos e professores de lerem a revista Quibbler quando ele deu uma entrevista contando seu lado da história. De novo, Umbridge demonstrou desconhecer os princípios básicos do comportamento humano e adolescente em especial: quanto mais rígida é a censura, maior o desejo pelo proibido e mais criativas as formas de burlar as regras. Cicarelli que o diga.
Nos domínios de Voldemort, a vaca da Umbridge era apenas uma burocrata que espionava os funcionários, mas o Ministério ocupado controlava os meios de comunicação como bom regime fascista e totalitarista que era. E assim como burlaram a censura dela em Hogwarts, desta vez também houve resistência contra a mídia comprada [ou seqüestrada, conforme o caso]: uma estação de rádio pirata mantinha os partidários de Harry informados e unidos.
Desqualificação dos inimigos, censura, manipulação da opinião pública, implicação de um "inimigo comum" [que pode ser a inflação, o desemprego, os terroristas, os imigrantes, o mercado...], tudo junto numa panela só me lembra muito a propaganda de Goebbels. Tia Jo começou a escrever Harry Potter quando o movimento neonazista voltava a ganhar força na Europa, no meio dos jovens de baixa educação que competiam com os imigrantes pelos empregos que não exigiam qualificação, e continuou a série durante o período pós-11 de setembro. Parte da mídia inglesa se esforçava para justificar a adesão incondicional do primeiro-ministro Tony Blair à caçada empreendida por George W. Bush. É, tia Jo, eu também tenho medo disso tudo.
Para poste futuro estou sem idéias no momento.
Marcadores: livro, potterices
2 Comments:
Uau...
Off topic
Naomi, fofura linda, nossa querida Fal!
Você já soube que o Alexandre partiu e a deixou aqui?
*supiros*
Quem dera eles vivessem no mundo poteriano!
*suspiros*
Fiquei tão comovida que nem consegui deixar mensagem nos comentários dela.
Cliquei sem as letrinhas e a emoção não me deixou mais prosseguir...
É que minha melhor amiga, comadre e cunhada faleceu do mesmo jeitinho, e escolheu o mesmo ritual - cremação...
Fiquei sabendo lá na Cora.
snif snif snif
Sou eu mesma a Cássia, faloris?!
Postar um comentário
<< Home